o último jornal

eu que não sou um homem de fé, perdi a fé nos homens, perdi a fé em mim.

não suporto mais nada. não compro mais jornais. não quero saber do mundo, das pessoas ou das tartarugas. chega. a vida não foi feita para se viver assim.

vou fazer como toda a gente. não quero saber. não quero saber que me fodam. não quero saber se morra à fome. não quero saber do cobertor que vi no chão à porta da antiga fil. não quero saber que vivamos num mundo injusto governado por injustos à custa dos que não querem saber.

eu também não quero saber. de tudo o que não consigo suportar na minha vida, não quero mais isto.

Desisti. não quero saber. não quero saber do espoliado, do sofredor. desde que não seja eu. quero ser igual aos outros. a partir de hoje encolho os ombros e não quero mais saber. saber dói.

vou-me alienar no meio de coisas mais bonitas. faz sentido, só temos uma vida. As coisas negativas tornam-nos depressivos. é claro que quem acorda à noite com o choro do filho que tem fome, não tem escolha. mas que se foda ele também.

a partir de hoje sou egoísta. desisti. não sei o que fazer.


Dedicado a Boubacar Bah

3 comentários:

Anónimo disse...

...
Não sei se por acanhamento
se por sofrimento
me encontro afastado
estou morto talvez
da vida descansado

Anónimo disse...

A minha vontade é cobarde
foge do que quer
como do que arde
e se tanto mais me ardera
ainda mais quisera

Como pedir o que não sei dizer
fora destas páginas sem peso?
Como as línguas que não sei roubar
longe desta caneta sem alma

...


isso era quando tinha a mania que era o camões

Marcinha disse...

isso passou?